-
Arquitetos: ARKITITO Arquitetura
- Área: 235 m²
- Ano: 2022
-
Fotografias:Ricardo Faiani
-
Fabricantes: Deca, Divinal Vidros, Gerdau, Pastilhas Atlas, Roca, Tintas Sherwin Williams
Descrição enviada pela equipe de projeto. Para estarem mais próximos de suas netas, a concepção para esta casa na capital paulista surge a partir da decisão de mudança de endereço do casal, que anteriormente residia no interior do estado. A esposa, paisagista, e o marido, engenheiro com laços no México, onde passou parte de sua infância, almejavam recriar a serenidade do antigo lar, incorporando elementos da arquitetura tradicional mexicana na nova moradia, como uma forma de evocar memórias afetivas. A realização deste projeto foi confiada à equipe do ARKITITO.
Situado na Vila Madalena – bairro de intensa movimentação social e cultural –, o lote apresentava notáveis desafios: em aclive, de esquina, e identificado por geometria triangular. Diante dessas características, uma abordagem cuidadosa foi adotada, visando explorar ao máximo as particularidades do terreno.
A proposta consiste na criação de um novo pavimento térreo, elevando-o até a cota mais alta do terreno. Essa solução permite a integração harmoniosa com o jardim e a criação de um mirante para apreciar a paisagem do bairro. Além disso, possibilita a inclusão de uma ampla garagem ao nível da rua e uma entrada discreta, conferindo maior privacidade à residência.
O acesso de pedestres ao pavimento principal é realizado através de uma pequena escada posicionada na lateral do terreno, que conduz ao jardim principal. A casa é articulada entre dois pátios conectados por uma galeria de circulação, que também atua como espaço de escritório para a proprietária, beneficiada pela passagem de luz e ventilação permanente ao longo do dia.
No pavimento térreo, com um pé-direito de 3,60 metros, os espaços sociais se integram completamente ao jardim através de amplos caixilhos de vidro que se abrem por completo e criam a sensação de um ambiente social unificado. O jardim, projetado pela moradora, desempenha um papel social fundamental e se transforma ao longo do uso, com alamedas sinuosos e uma praça delineada por calçamento de pedras portuguesas pretas. Essa praça se estende como uma continuação da sala, enquanto um jardim de ervas e temperos fica estrategicamente localizado em frente à cozinha, para a praticidade no dia a dia e perfumando o ambiente com aromas frescos. A empena da fachada foi prolongada em altura para funcionar como guarda-corpo, possibilitando maior privacidade para a família.
No interior, visando proporcionar aos moradores uma vista panorâmica que se estende desde o jardim até a copa das árvores e a paisagem dos edifícios no horizonte, a bancada de trabalho da cozinha é posicionada no centro do espaço. Isso permite que possam desfrutar de prazerosos momentos durante o preparo das refeições. Os armários são projetados com altura inferior à do pé-direito, criando uma sensação de amplitude, enquanto o design modular segue o padrão da bancada principal e da estante do lado oposto. Na paleta cromática, a presença dos tons esverdeados e terrosos, que estão presentes nas marcenarias e nos caixilhos, faz alusão às nuances encontradas no exterior.
A sala de estar surge como um espaço integrado, mas protegido por paredes que interrompem a linha dos caixilhos, criando um ambiente mais reservado, ideal para sessões de filmes. Essa solução também abre espaço para uma galeria especialmente organizada para exibir o acervo pessoal dos moradores, iluminado através da claraboia que demarca o perímetro da escada. Nos fundos, encontram-se a lavanderia, um amplo espaço de armazenamento e um quarto de hóspedes que se abre para o jardim traseiro. Neste espaço, uma horta em três níveis foi projetada para o cultivo de verduras e hortaliças, ecoando hábitos da vida campestre trazidos pelos clientes.
O pavimento superior é integralmente dedicado à suíte do casal, que compreende um dormitório, um closet e um amplo banheiro. O caixilho de altura quase total, posicionado na fachada principal, traz a paisagem para dentro, enquanto a porta lateral conduz ao jardim privativo, adornado com peças vintage selecionadas pela moradora. O pergolado de estrutura mista – metálica e peças de madeira bruta – oferece uma agradável área sombreada. No banheiro, o piso é revestido por pastilhas cerâmicas com grafismos florais, e a banheira é estrategicamente posicionada diante do caixilho de vidro, protegida por uma árvore exterior, como um autêntico oásis urbano.
A volumetria da casa se apresenta como uma estrutura sólida, interrompida pelo dinamismo das aberturas que estrategicamente fendem as fachadas, e envolta pela dupla de pátios. A cor externa, em tom de areia, e os caixilhos vermelho acobreados referenciam as memórias de infância do morador, assim como algumas escolhas para o jardim. O nome da casa, Lechuza – atribuída pelos moradores – significa "coruja" em espanhol, e além dos significados de sabedoria e proteção, também evoca a posição observadora da residência, situada em um ponto alto com vista para a cidade.